para o efebo, que acarreava o colete e as calças, atabalhoado:
- — E gostas desse modo de vida?
- — Não desgosto.
- — Vender jornais e cautelas... Pobre rapaz!
- — É reinadio — comentou o efebo num encolher de ombros despreocupado e alegre. — Farta-se a gente de berrar.
- — A polícia conhece-te?
- — Já fui preso uma vez... — respondeu baixando os olhos.
- — Porquê?
- — Não tinha feito mal nenhum!... Foi de uma vez que deitaram a rede à gatunagem.
- — E então é bonito isso?
- — Ora adeus!... Eu não tinha roubado nada a ninguém.
- — Nunca tiveste fome?
- — Às vezes tenho... mas tenho também a minha liberdade, que vale mais que pão! — afirmou convicto o garoto, num aprumo altivo.
- — Mas eu já te disse... Continuas na tua liberdade e não tornas a ter fome, querendo ficar pela minha conta.
- — O senhor está a gozar... — insinuou a meia voz o lascarino, abrindo a expressão num sorriso malicioso de suspeita.
- — Ficas nesta casa e tens dez tostões por dia... Que mais queres?
E como a desconfiança acabasse de acentuar-se nas feições do rapaz:
- — Desconfias?... É natural; não me conheces... Ora, já que sabes ler, lê lá. — E, tirando da carteira um bilhete-de-visita, o barão estendeu-o ao rapaz.
Sobre um — Barão de Lavos — descrito em cursivo largo e elegante, reluzia a miniatura de um símbolo