nos lábios negros, as mãos cruzadas em aspa debaixo do avental. Era a mulher do dono do bric-à-brac da loja. Tinha ao seu cargo a conservação e arranjo da casa alugada pelo barão, que lhe disse, apenas ela entrou:

— Ouviu, Sra. Ana?... De hoje em diante este rapaz fica a morar nesta casa.
— Sim, senhor barão.
— A senhora cumpre as ordens dele como se fosse eu que lhas desse.
— Sim, senhor barão.

E logo este, colhendo o rapaz a um lado, a meia voz:

— Tomaste sentido?... E a tua criada... Podes combinar com ela para te fazer a comida. Toma lá, para os primeiros dias. — Meteu-lhe na mão duas moedas de ouro; depois concluiu: — E, primeiro que tudo, tens aí água, coco e sabão... lavado, muito bem lavado, hem!... amanhã iremos ao alfaiate. Até amanhã.

Quando passou pela frente da Sra. Ana, que lhe fora abrir a porta, recomendou ainda: — Sirva-mo e trate-mo bem, veja lá! — O menino fica ao meu cuidado; vá descansado, senhor barão. O pederasta desceu rápido a escada, leve desta alegria efémera que segue de perto a satisfação de um capricho. Mas em baixo, à porta, a luz forte do exterior cegou-o, acendeu-lhe num clarão doloroso a consciência... Então invadiu-o uma impressão de cobardia e de desgosto, caiu na fase do tédio, e foi seguindo pela rua estrangulada e suja, a que uma faixa límpida de azul fazia tampa, medroso e triste, quase arrependido, a malucar em mil preocupações funestas que o seu hipocondrismo desatara a sugerir-lhe.