Assim, o patife prosseguiu colhendo na retórica do galanteio as flores mais inflamadas, cuja venenosa essência D. Elvira aspirava deliciadamente, com a face afogueada, os lábios trémulos e os olhos húmidos de comoção. O barão, de longe, no grupo dos homens, observava a cena, desconfiado, torvo. Gradualmente o ciúme regrou-lhe a testa, e os dedos longos e nodosos dobraram-se contra a palma da mão, numa fúria nervosa de bater.

A um claro da sua imprudência, a baronesa deu de olhos nele; então teve medo, e corrigiu logo a expressão e a atitude, abrindo ao mesmo tempo o leque e piparotando as pregas do vestido.

A Júlia veio ter com a irmã, a dizer-lhe:

— Vou tocar, e vai ser uma vergonha! Estou tão nervosa!... O mafarrico do Mendonça em toda a noite não tira os olhos de mim! — E logo o Câmara aproveitou para levantar-se e ir enfiar o braço no do barão, a explicar-lhe com a mais cínica naturalidade: —
Sua esposa esteve-se informando do benefício da Rey Baila. Como não foi... — O barão teve um rugido surdo de cólera e afastou do tronco o braço, de modo a fazer cair o de Xavier da Câmara. Este, porém, imperturbável: — Como não foi... — repetiu.
— E natural a curiosidade, e nem ela podia ter escolhido mais condescendente informador... — conseguiu dizer o barão, num tom frio de ironia. A baronesa espiava-os, branca de susto.
— Obrigado, barão!... Mas não esteve grande coisa aquilo. Que o diga aqui o Alípio, que ficou mesmo ao meu lado.
— O quê? — perguntou o melífluo personagem, que em atenção às conveniências tinha deixado a viúva.