- — Não a vi no benefício da Rey Baila, minha senhora. Esteve doente?
- — Não, felizmente... nem eu, nem ninguém dos meus; mas fazia anos meu pai. Fui passar o dia e a noite com ele, e cedi a frisa às Pachecos.
- — Afinal não perdeu nada. A beneficiada sentia-se rouca, e o Junca também não estava nos seus dias. — E acrescentou, todo curvo para a baronesa, num mal reprimido suspiro: — O único que perdeu, fui eu...
- — O senhor!? — estimulou a baronesita, com uma simulação coquette de espanto. — Eu sim, minha senhora... Tinha quase como certo ver Vosselência aquela noite, ali, branca e rosada na sua frisa, respondendo amável à minha saudação e dominando, como sempre, a sala, toda rendida ao prestígio da sua encantadora formosura!
- — Lisonjeiro!... Se assim gosta de me ver, porque nos não visita? S. Cristóvão assim é longe?... Recebemos todas as tardes — bem sabe.
- — Faz sua diferença. Isto de vermos a mulher que nos cativa, no recinto acanhado de uma sala, apertados no formulário da etiqueta, sob o olhar espertalhotão e malicioso das outras visitas, c’est un supplice na vrant, comprometedor, atroz! —E como D. Leonor se tivesse levantado, para ir pedir à Julita que tocasse o Noturno de Chopin: — Não assim na amplidão anónima de um teatro, onde cada um pode entregar-se sans contrainte, sem receio de comprometer nem de ser surpreendido, à contemplação muda e ardente do anjo que o fascina porque realiza o seu ideal sonhado e apetecido!