E sempre sem amor, vagaste sempre
          Pallido Don João!
Sem alma que entendesse a dôr que o peito
          Te fizera em volcão!

3


Da absorta mente os sonhos te quebrava
          Do mundo o sussurrar.
E foste livre refazer teu peito
          Ao ar livre do mar.
E quando o barco d'alta noite aos ventos
          Entre as vagas corria
E d'astro incerto o alvor te prateava
          A pallidez sombria,
Era-te amor o pleitear das águas
          Nos rochedos cavados —
E amargo te franzia um rir de gozo
          Os lábios descorados!


E amaste o venda vai, que as folhas trêmulas
          Das florestas varria —
E o mar — alto a rugir — que a ouvil-o, a fronte
          Altiva se te erguia!
E amaste negro o céo, — o mar — a noite
          E entre a noite — o trovão
N'um craneo zombador brindaste aos mortos
          Cantor da destruição!