flores cheirosas, o roçar das correntes dos incensadores de prata, os uníssonos que rompem briosamente no coro das aleluias. Tomava a Sé como a sua Ópera: Deus era o seu luxo. Nos domingos de missa gostava de se vestir, de se perfumar com água-de-colônia, de se ir aninhar sobre o tapete do altar-mor, sorrindo ao padre Brito ou ao cônego Saldanha. Mas em certos dias, como dizia a mãe, "murchava"; voltavam então os abatimentos de outrora, que a amarelavam, lhe punham duas rugas velhas ao canto dos lábios: tinha nessas ocasiões horas duma vaga saudade parva e mórbida, em que só a consolava cantar pela casa o Santíssimo ou as notas lúgubres do toque da Agonia. Com a alegria voltava-lhe o rosto do culto alegre — e lamentava então que a Sé fosse uma ampla estrutura de pedra dum estilo frio e jesuítico: quereria uma igreja pequenina, muito dourada, tapetada, forrada de papel, iluminada a gás; e padres bonitos oficiando a um altar ornado como uma étagère.
Fizera vinte e três anos quando conheceu João Eduardo no dia da procissão de Corpus-Christi, em casa do tabelião Nunes Ferral, onde ele era escrevente. Amélia, a mãe, a Sra. D. Josefa Dias tinham ido ver a procissão da bela varanda do tabelião, guarnecida de colchas de damasco amarelo. João Eduardo estava lá, modesto, sério, todo vestido de preto. Havia muito que Amélia o conhecia; mas naquela tarde, reparando na brancura da sua pele e na gravidade com que ajoelhava, pareceu-lhe "muito bom rapaz".
À noite, depois do chá, o gordalhufo Nunes, de colete branco, foi pela sala exclamando, entusiasmado,