com a sua voz de grilo: — É tirar pares, é tirar pares! — enquanto a filha mais velha ao piano tocava com brio estridente uma mazurca francesa. João Eduardo aproximou-se de Amélia:

— Ai, eu não danço! — disse ela logo com ar seco.

João Eduardo não dançou também; foi encostar-se a uma ombreira com a mão na abertura do colete, os olhos fitos em Amélia. Ela percebia, desviava o rosto, mas estava contente; e quando João Eduardo, vendo uma cadeira vazia, veio sentar-se ao pé dela, Amélia fez-lhe logo lugar acomodando os folhos de seda, agradada. O escrevente, embaraçado, torcia o bigode com a mão trêmula. Por fim Amélia voltando-se para ele:

— Então o senhor não dança também?

— E a Sra. D. Amélia? disse ele baixo.

Ela inclinou-se para trás, e batendo nas pregas do vestido:

— Ai! eu estou velha para estes divertimentos, sou uma pessoa séria.

— Nunca se ri? perguntou ele, pondo na voz uma intenção fina.

— Às vezes rio quando há de quê, disse ela olhando-o de lado.

— De mim, por exemplo.

— De si!? Ora essa! Está a caçoar comigo? Por que me hei-de eu rir do senhor? Boa!... então o senhor que tem que faça rir? — e agitava o seu leque de seda preta.

Ele calou-se, procurando as idéias, as delicadezas.

— Então sério, sério, não dança?