D. Josefa embrulhou- se à pressa no seu mantelete para ir buscar a pequena, coitada, que havia de estar farta de esperar.

O Carlos acompanhou-a, desbarretando-se, e dizendo-lhe (como um mimo que remetia ao seu senhorio):

— Repita ao nosso cônego quais são as minhas opiniões... Que nessa questão do Comunicado e de ataques ao clero, estou de alma e coração com suas senhorias... Criado seu, minha senhora... O tempo vai-se a embrulhar.

Quando D. Josefa entrou na igreja, Amélia estava ainda no confessionário. A velha tossiu alto, ajoelhou, e, com as mãos sobre a face, abismou-se numa devoção à Senhora do Rosário. A igreja ficou numa imobilidade e num silêncio. Depois D. Josefa, voltando-se para o confessionário, espreitou por entre os dedos; Amélia conservava-se imóvel, com a mantilha muito puxada para o rosto, a roda do vestido negro espalhada em redor; e D. Josefa recaiu na sua reza. Uma chuva fina fustigava agora os vidros duma janela, ao lado. Enfim, houve no confessionário um rangido de madeira, um frufru de vestidos nas lajes, - e D. Josefa, voltando-se, viu de pé diante dela Amélia com a face escarlate e o olhar reluzindo muito.

— Está há muito tempo à espera, madrinha?

— Um bocadinho. Estás prontinha, hem?

Ergueu-se, persignou-se, e as duas senhoras saíram da Sé. Ainda caía uma chuva fina; mas o Sr. Artur Couceiro, que passava no largo com ofícios para o governo civil, foi levá-las à Rua da Misericórdia debaixo do seu guarda-chuva.