candeeiro defronte. Amélia estava toda atarantada. A negrura do pátio e o silêncio assustavam-na; mas parecia-lhe delicioso estar assim naquela escuridão, ao pé dele, ignorada de todos... Insensivelmente atraída, roçava-se-lhe pelo ombro; e recuava logo, inquieta de ouvir a sua respiração tão agitada, de o sentir tão junto das saias. Percebia por trás, sem a ver, a escada que levava ao quarto dele; e tinha um desejo imenso de lhe ir ver, acima, os seus móveis, os seus arranjos... A presença da Dionísia, encolhida contra a porta e muito calada, embaraçava-a; todavia a cada momento voltava os olhos para ela, receando que desaparecesse, se sumisse na negrura do pátio ou da noite...
Amaro então começou a bater com os pés no chão, a esfregar as mãos, arrepiado.
— Estamos aqui a apanhar alguma, dizia. As lajes estão regeladas. Realmente era melhor esperar em cima na sala de jantar...
— Não, não! disse ela.
— Pieguices! Até a mamã se havia de zangar... Vá, Dionísia, acenda luz em cima.
A matrona imediatamente galgou os degraus.
Ele então, muito baixo, tomando o braço de Amélia:
— Por que não? Que pensas tu? É uma pieguice. É enquanto não passa o aguaceiro. Dize...
Ela não respondia, respirando muito forte. Amaro pousou-lhe a mão sobre o ombro, sobre o peito, apertando-lho, acariciando a seda. Toda ela estremeceu. E foi-o enfim seguindo pela escada, como tonta, com as orelhas a arder, tropeçando a cada degrau na roda do vestido.