No dia seguinte de manhã, a S. Joaneira, que estava na sala de jantar, sentindo o senhor cônego subir soprando forte, veio encontrá-lo à escada e fechou-se com ele na saleta.

Queria contar-lhe a aflição que tivera de madrugada. A Amélia acordara de repente aos gritos, que Nossa Senhora lhe estava a pousar o pé no pescoço! que sufocava! que a Totó a queimava por detrás! e que as labaredas do Inferno subiam mais alto que as torres da Sé!... Enfim um horror!... Viera encontrá-la em camisa a correr pelo quarto, como doida. Daí a pouco caíra para o lado com um ataque de nervos. Toda a casa estivera em alvoroço... A pobre pequena lá estava de cama, e em toda a manhã apenas tocara numa colher de caldo.

— Pesadelos, disse o cônego. Indigestão!

— Ai, senhor cônego, não! exclamou a S. Joaneira, que parecia acabrunhada, sentada diante dele na borda duma cadeira. É outra coisa: são aquelas desgraçadas visitas à filha do sineiro!

E então desabafou, com a efusão labial de quem abre os diques a um descontentamento acumulado. Nunca quisera dizer nada, porque enfim reconhecia que era uma grande obra de caridade. Mas, desde que aquilo começara, a rapariga parecia transtornada. Ultimamente, então, andava de todo. Ora alegrias sem razão, ora umas trombas de dar melancolia aos móveis. De noite sentia-a passear pela casa até tarde, abrir as janelas... Às vezes tinha até medo de lhe ver o olhar tão esquisito: quando vinha de casa do sineiro era sempre branca como a cal, a cair de