— Pois era melhor para todos que não viesse...

— E por quê, senhor abade? e por quê? gritou Amaro, perdido.

Então, o bom homem estremeceu. Cometera, ali, a culpa mais grave do sacerdote católico: o que sabia de Amaro, dos seus amores, era em segredo de confissão; e era trair o mistério do sacramento, mostrar que desaprovava aquela insistência no pecado. Tirou muito baixo o seu chapéu e disse humildemente:

— Tem vossa senhoria razão. Peço perdão do que disse sem refletir. Muito boas-tardes, senhor pároco.

— Muito boas-tardes, senhor abade.

Amaro não entrou na Ricoça. Voltou para a cidade sob a chuva que batia forte agora. E, apenas em casa, escreveu uma longa carta a Amélia, em que lhe contava a cena com o abade, acabrunhando-o de acusações - sobretudo de lhe trair indiretamente o segredo da confissão. Como das outras, desta carta não veio resposta da Ricoça.

Amaro então começou a acreditar que tanta resistência não podia vir só do arrependimento e do terror do inferno... "Ali há homem", pensou. E devorado dum ciúme negro principiou a rondar de noite a Ricoça: mas não viu nada; o casarão permanecia adormecido e apagado. Uma ocasião, porém, ao aproximar-se do muro do pomar, sentiu adiante no caminho que desce dos Poiais uma voz cantarolar sentimentalmente a valsa dos Dois mundos, e um ponto brilhante de charuto aceso adiantar-se na escuridão. Assustado, refugiou-se num casebre que desmantelava em ruínas do outro lado da estrada. A voz