— Ai, senhor abade, pobre criaturinha! Ia tão bem, e de repente isto... Que foi por lhe tirarem o filho... Eu não sei quem é o pai, mas o que sei é que nisto tudo anda um pecado e um crime!...
O abade não respondeu, orando baixo pelo padre Amaro.
O doutor então entrou com o seu estojo na mão:
— Se quiser, abade, pode ir, disse.
Mas o abade não se apressava, olhando o doutor, com uma pergunta a bailar-lhe nos lábios entreabertos, e retendo-a por timidez: enfim, não se conteve, e num tom de medo:
— Fez-se tudo, não há remédio, doutor?
— Não.
— É que nós, doutor, não devemos aproximar-nos duma mulher em parto ilegítimo senão num caso extremo...
— Está num caso extremo, senhor abade, disse o doutor, vestindo já o seu grande casacão.
O abade então recolheu o Breviário, a cruz - mas antes de sair, julgando do seu dever de sacerdote pôr diante do médico racionalista a certeza da eternidade mística que se desprende do momento da morte, murmurou ainda:
— É neste instante que se sente o terror de Deus, o vão do orgulho humano...
O doutor não respondeu, ocupado a afivelar o seu estojo.
O abade saiu - mas, já no meio do corredor, voltou ainda, e falando com inquietação:
— O doutor desculpe... Mas tem-se visto, depois dos socorros da religião, os moribundos