E olhando para todos os cantos como para se assegurar da solidão, disse muito excitada:

— Eu não quis dizer nada... Que o senhor doutor tem um gênio!... Mas sangrar a rapariga naquele estado é querer matá-la... Que ela tinha perdido pouco sangue, é verdade... Mas nunca se sangra ninguém em semelhante momento. Nunca, nunca!

— O senhor doutor é homem de muita ciência...

— Pode ter a ciência que quiser... Eu também não sou nenhuma tola... Tenho vinte anos de experiência... Nunca me morreu nenhuma nas mãos, senhor abade... Sangrar em convulsões? Até causa horror!...

Estava indignada. O senhor doutor tinha torturado a criaturinha. Até lhe quisera administrar clorofórmio...

Mas a voz do doutor Gouveia berrou por ela do fundo do corredor - e a matrona abalou, com o seu molho de guardanapos.

O medonho relógio, com a sua coruja pensativa, bateu as duas horas, depois as três... O abade, agora, cedia a espaços a uma fadiga de velho, cerrando um momento as pálpebras. Mas resistia bruscamente: ia respirar o ar pesado da noite, olhar aquela treva de toda a aldeia; e voltava a sentar-se, a murmurar, com a cabeça baixa, as mãos postas sobre o Breviário:

— Senhor, volta os teus olhos misericordiosos para aquele leito de agonia...

Foi então Gertrudes que apareceu comovida. O senhor doutor mandara-a abaixo acordar o moço para pôr a égua ao cabriolé.