residência, vendo fora sem cessar cair a neve... E veio-lhe um desejo ansioso dessas solidões da serra, dessa existência de lobo, longe dos homens e das cidades, sepultado lá com a sua paixão.

A porta de Carlota estava fechada. Bateu, foi de roda chamar, atirando a voz por cima do telhado dos currais, para o pátio, onde sentia cacarejar os galos. Ninguém respondeu. Seguiu então pelo caminho da aldeia, levando a égua pela arreata; parou na taberna, onde uma mulher obesa fazia meia, sentada à porta. Dentro, no escuro da baiúca, dois homens com os seus quartilhos ao lado, batiam as cartas numa bisca renhida; e um rapazola duma amarelidão de sezões, com um lenço amarrado na cabeça, olhava-lhes o jogo tristemente.

A mulher tinha justamente visto passar a Sra. Carlota, que até parara a comprar um quartilho de azeite. Devia estar em casa da Micaela, ao adro. Chamou para dentro; uma rapariguita vesga apareceu detrás da sombra das pipas.

— Corre, vai à Micaela, dize à Sra. Carlota que está aqui um senhor da cidade.

Amaro voltou para a porta da Carlota, esperou sentado numa pedra, com o seu cavalo pela rédea. Mas aquela casa fechada e muda aterrava-o. Foi pôr o ouvido à fechadura, na esperança de ouvir um choro, uma rabugem de criança. Dentro pesava um silêncio de caverna abandonada. Mas tranquilizava-o a idéia que a Carlota teria levado a criança consigo, para a Micaela. Devia realmente ter perguntado à mulher na taberna, se a Carlota trazia uma criança ao colo... E olhava a casa bem caiada, com a sua janela em cima que tinha uma