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Paul Gallico


ocasional exceção de caçadores de pássaros e coletores de ostras que ainda fazem um tipo de comércio que já era antigo quando os normandos vieram a Hastings.

As cores do Grande Pântano são cinzas, azuis e verde-claras, enquanto os céus são escuros nos longos invernos, quando as abundantes águas das praias e pântanos refletem sua sóbria e fria coloração. Mas, às vezes, com o nascer e pôr do sol, céu e terra são preenchidos com a cor avermelhada do fogo.

Próxima a um dos sinuosos braços do pequeno Rio Aelder, estende-se a ribanceira de uma antiga parede marítima, lisa e sólida, sem nenhuma fissura, uma proteção terrena contra o mar invasor. Ela se estende até um marisma distante uns cinco quilômetros do Canal da Mancha[1], e então se vira para o norte. Nessa parte, tem a aparência rachada e despedaçada. Já foi rompida pelas águas do mar bravio, que penetraram e tomaram para si tudo que havia ali.

Sobre águas baixas, as pedras escurecidas e partidas das ruínas de um farol abandonado surgem acima da superfície, formando — tais como marcadores feitos com boias no mar — uma espécie de cerca vergada. Antigamente, este farol bordejava o mar e iluminava a costa de Essex, mas o tempo alterou as condições da terra e da água e sua utilidade acabou tendo um fim.

Posteriormente, o farol serviu novamente como habitação humana. Dentro dele, viveu um homem solitário. Seu corpo era deformado, mas seu coração era repleto de amor por coisas e animais selvagens. Quem o olhasse o acharia muito feio, mas ele foi capaz de criar uma grande beleza para o mundo.

  1. Faixa marítima que separa o sul da Inglaterra do norte da França. [NT]