O Ganso-das-Neves

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É a ele, e à uma criança que veio a conhecê-lo e que enxergava o que havia além de sua aparência grotesca, que esta história se refere.

Esta não é uma história que segue calma e suavemente uma sequência, uma vez que ela foi coletada de muitas fontes e por meio de muitas pessoas. Inclusive, algumas destas vem na forma de relatos fragmentados de homens que presenciaram cenas estranhas e violentas. Pois acontece que o mar reivindicou para si o local onde a história ocorreu e cobriu-o de ondas, e o grande pássaro branco de penas levemente escurecidas, que presenciou tudo do começo ao fim, já retornou para as frias e silenciosas terras nórdicas de veio.

No final da primavera de 1930, Philip Rhayader veio para o farol abandonado na embocadura do Rio Aelder. Ele comprou o farol e os muitos acres de terras pantanosas e marismas ao redor.

Ele vivia e trabalhava lá sozinho o ano inteiro. Era um pintor de aves e da natureza, que por certos motivos, retirou-se completamente do convívio com a sociedade humana. Alguns destes motivos ficavam aparentes nas suas visitas quinzenais ao pequeno vilarejo de Chelmbury, onde ia adquirir mantimentos. Os nativos observavam desconfiadamente seu corpo disforme e seu rosto sombrio — ele era corcunda e seu braço esquerdo era aleijado, fino e curvado no pulso, como a garra de uma ave.

Com o tempo, os habitantes do vilarejo acostumaram-se com sua aparência estranha, pequena mas chamativa, com sua massiva cabeça morena e barbada, alojada um pouco abaixo da misteriosa protuberância em suas costas, seus olhos brilhantes e seu braço em formato de garra, referindo-se a ele como "aquele pintor esquisito que vive lá no farol."