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Paul Gallico


velho farol e pousar próximo para serem suas hóspedes novamente — aves das quais ele lembrava bem e reconhecia do ano anterior.

E isto fazia Rhayader feliz, porque ele percebia que estes animais sabiam de sua existência e de seu santuário, que este conhecimento havia se tornado parte destas aves, e que o advento dos céus acinzentados e dos ventos do norte mandaria elas de volta para ele.

Quanto ao mais, seu coração e sua alma dedicavam-se à pintura da região em que vivia e de suas criaturas. Não há muitas pinturas suas ainda existentes. Ele as armazenava ciosamente, empilhando-as às centenas em salas dedicadas a isto. Nunca estava satisfeito com elas, pois como artista era intransigente.

Mas as poucas de suas telas que chegaram ao mercado das artes são consideradas obras-primas, repletas com o brilho e as cores da luz refletida nos pântanos, com a sensação de voo, com o premir de aves enfrentando o vento matinal que flexiona os grandes juncos. Ele pintava a solidão e o cheiro do frio salgado, a eternidade e perenidade dos pântanos, as criaturas selvagens, os voos no amanhecer e as sombras aladas na noite escondendo-se da lua.

Em uma tarde de novembro, três anos após Rhayader vir para o Grande Pântano, uma menina aproximou-se do ateliê do farol, vindo pela parede marítima. Em seus braços ela carregava um volume.

Ela não tinha mais do que doze anos de idade; magra, suja, nervosa e tímida como uma ave, mas por baixo da sujeira ela era tão misteriosamente bela como uma fada dos pântanos. Era uma saxã pura, de ossos largos, com a cabeça maior que o corpo e olhos de um violeta profundo.

Ela estava aterrorizada com o homem feio que estava indo encontrar, pois já se criara uma lenda em