—E vós, Loredano, nada dizeis? Estais aí que não há modo de vos ouvir uma palavra!
—Certo, acudiu outro, Bento Simões diz verdade; se não é a fome que vos traz mudo, algo tendes, misser italiano.
—Voto a Deus, Martim Vaz, disse um terceiro, que são penares por alguma moçoila que andou reqüestando em São Sebastião.
—Tirai-vos lá com os vossos penares, Rui Soeiro; achais que Loredano seja homem de se amofinar por coisa de tal jaez?
—E por que não, Vasco Afonso? Todos calçamos pelo mesmo sapato, em que o aperte mais a uns do que a outros.
—Não julgueis os mais por vós, dom namorado; homens há que trazem seu pensamento empregado em coisa de mor valia do que requebros e galanteios.
O italiano conservava-se taciturno, e deixava que os outros o trouxessem à baila, sem dar-se por achado: era fácil de ver que ele seguia com afinco uma idéia que lhe trabalhava no espírito.
—Mas, por Deus, continuou Bento Simões, falai-nos do que vistes na vossa viagem, Loredano; apostaria que alguma vos sucedeu!