CANTO PRIMEIRO.

 
1858.

Eia, imaginação divina!
Os Andes
Volcanicos elevam cumes calvos,
Circumdados de gelos, mudos, alvos,
Nuvens fluctuando-que espectac’los grandes!
Lá, onde o poncto do kondor negreja,
Scintillando no espaço como brilhos
D’olhos, e cae a prumo sobre os filhos
Do lhama descuidado; onde lampeja
Da tempestade o raio; onde deserto,
O azul sertão formoso e deslumbrante,
Arde do sol o incendio, delirante
Coração vivo em céu profundo aberto!

“Nos aureos tempos, nos jardins da America
Infante adoração dobrando a crença
Ante o bello signal, nuvem iberica
Em sua noite a involveu ruidosa e densa.
“Candidos Incas! Quando já campeiam
Os heroes vencedores do innocente
Indio nú; quando os templos s’incendeiam,
Já sem virgens, sem oiro reluzente,
“Sem as sombras dos rêis filhos de Manko,
Viu-se... (que tinham feito? e pouco havia
A fazer-se...) n’um leito puro e branco
A corrupção, que os braços estendia!
“E da existencia meiga, afortunada,
O roseo fio n’esse albor ameno
Foi destruido. Como ensanguentada
A terra fez sorrir ao céu sereno!
“Foi tal a maldicção dos que caidos
Morderam d’essa mãe querida o seio,
A contrahir-se aos beijos, denegridos,
O desespero se imprimil-os veiu,
“Que resentiu-se, verdejante e válido,
O floripondio em flor; e quando o vento
Mugindo estorce-o doloroso, pallido,
Gemidos se ouvem no amplo firmamento!