"E o Sol, que resplandece na montanha
As noivas não encontra, não se abraçam
No puro amor; e os fanfarrões d’Hespanha,
Em sangue edeneo os pés lavando, passam.
“Caiu a noite da nação formosa;
Cervaes romperam por nevado armento,
Quando com a ave a corte deliciosa
Festejava o purpureo nascimento."
Assim volvia a olhar o Guesa Errante
Ás meneiadas cimas qual altares
Do genio patrio, que a ficar distante
S’eleva a alma beijando-o além dos ares.
E enfraquecido o coração, perdoa
Pungentes males que lhe estão dos seus —
Talvez feridas settas abençoa
Na hora saudosa, murmurando adeus.

Porém, não s’interrompa esta paisagem
Do sol no espaço! mysteriosa calma
No horizonte; na luz, bella miragem
Errando, sonhos de doirada palma!
Eia, imaginação divina! Sobre
As ondas do Pacifico azulado
O phantasma da Serra projectado
Aspero cincto de nevoeiros cobre:
D’onde as torrentes espumando saltam
E o lago anila seus lençóes d’espelho,
E as columnas dos picos d’um vermelho
Clarão ao longe as solidões esmaltam.
A fórma os Andes tomam solitaria
Da eternidade em roto vendaval
E os mares compellindo procellaria,
Condensa, altiva, indomita, infernal!
(Ao que do oceano sobe, avista a curva
Perdendo-se lá do ether no infinito,
Treme-lhe o coração; a mente turva
S’inclina e beija a terra-Deus bemdicto!)
Ou a da noite austral, co’a flor do prado
Communicando o astro; ou a do bronco
E convulsivo se annellar d’um tronco
De constrictor, o paramo abrazado!

E o deus no espaço, em fulgorosas vagas
Repercutida a luz no céu profundo,