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O INFERNO

para restabelecer a ordem material e a moral quanto póde ser.

Cuida-se em esquivar o culpado ás seducções que o perderam; impedem-no de ser nocivo a si e aos outros; privam-no de satisfazer as paixões, não com o intento de lh'as irritar, mas de enfraquecel-as; sequestram-no da companhia das pessoas de bem, não para que as odeie, mas para que as chore; deseja-se que a sua maior afllicção consista em havel-as offendido, e que o arrependimento o rehabilite para tornar ao seio d'ellas; protegem-no contra a injuria; enviam-lhe a visita de caridade que o instrue, consola e ás vezes restaura. Estas conversões são raras certamente; quasi todas as nossas prisões são infectas; ahi a soledade corrompe; e a promiscuidade é contagiosa. Sabem-no os legisladores, e os juizes tambem. Não se diz, porém, que assim o querem juizes e legisladores? E, na verdade, querem-no assim!? Que se nos depara ahi senão o stygma da imperfeição das nossas obras, e a pequenez de recursos em comparação dos desejos? Mas nem por isso nos sentimos descrer dos intimos anhelos que nos incitam a buscar nas penas meio de restaurar a ordem perturbada, onde quer que seja, e até na alma do criminoso. O que a mesma imperfeição nos aconselha é que prosigam sem descanso no intento, que será completamente realisado no mundo em que a justiça é perfeita, e o poder do principe igual á sua justiça.

Não nos mostrem, pois, no inferno, uma galé immensa,