que, ao entrar na puberdade, há meninas que comem carvão e cal das paredes: eu devorava brochuras francesas. Essa leitura contínua, variada, superficialmente, sem método, junto com exercícios enfermos da vontade, atropelou de alguma forma meu sistema nervoso. E o que é interessante é que lia mais para satisfazer minha vaidade de homem lido do que para encontrar um alimento necessário para meu cérebro, destituído de idéias e de sensações estéticas. Sem embargo, essa mania, que logo passou, foi útil: convenci-me de pronto da superfluidade da literatura francesa contemporânea, e imediatamente procurei leituras mais sólidas.

Suponho que não tratais de saber todas as obras que li, senão daquelas que mais acentuadamente contribuíram para minha educação estética e filosófica, que transformaram meu modo de ser, que me abriram novos horizontes e perspectivas novas, que me revelaram novos valores das coisas. As tragédias de Ésquilo e de Sófocles agradaram-me imensamente, como me entusiasmaram muito a História dos Césares, de Suetônio, e o Satiricon, de Petrônio. Li e leio continuamente as máximas de Epiteto, Helvetius, Champfort e La Rochefoucauld. Conheço muito superficialmente a literatura clássica. Zola, escritor que eu detestava e combatia... sem nunca o ter lido, empolgou-me de emoção.