sou vítima dessa suposição. A Viúva Simões é a história de uma senhora conhecida; A intrusa, ainda outro dia Afonso Celso perguntou a meu marido se era um romance à clef... Andava muito contente com aquele conto: "A valsa da Fome". Mandei o volume a uma das minhas primas em Lisboa e recebi logo uma carta sua. Oh! "A valsa da Fome", a verdade dessas páginas! Há dezesseis dias em Cascais deu-se um fato idêntico. Apenas o fim é que é diverso. Os rapazes levaram o pianista a jantar e ele desmaiou...

Nós sorríamos.

— Que se há de fazer? Quantos há por aí copiando a verdade, que são sempre falsos? D. Júlia tem a luminosa faculdade de criar, e trata os personagens da fantasia como educa os seus filhos. É a vida.

— Oh! Os meus personagens. Às vezes são até inconvenientes. A gente inventa-os e no meio do livro eles começam a discutir, a ter desejos, a forçar as portas da atenção. A Intrusa, por exemplo, quando a fantasiei, devia aparecer muito pouco...

Uma criança loira, de uma beleza de narciso, aparece à porta. É a Margarida. As suas longas mãos no ar, chamando a mãe, são tão finas e rosadas que recordam as pétalas dos crisântemos. D. Júlia levanta-se.