— A questão não é de vocabulário; é de disciplina. Os russos têm uma porção de dicionários de soldados e para nada lhes serve o possuí-los. Eu consegui disciplinar o vocabulário. Dada um certa impressão, concluída uma idéia, posso sentar-me e escrever. A idéia sai vestida e os termos exatos juntam-se no perfeito reflexo da impressão. Estou a tomar uns ares dogmáticos... Perdoa. É quase uma confissão. Vem desse esforço, que foi a pouco e pouco desbastando do meu estilo os guizos de muitos adjetivos para substituí-los por um só, exato, o emprego de certos termos populares como sarrilho e de palavras desejosas de dar a idéia mais onomatopaica do fato, como buchorno com a significação de mormaço — dois substantivos vítimas em tempo da crítica...

Acusam-me de preciosismo, meu caro amigo. Não sabem eles que o artista é o resultado de mil influências desencontradas...

— Qual dos seus volumes prefere?

— O Pelo Amor! Não se admire. Prefiro o Pelo Amor! por uma questão de momento. Ainda naquele tempo julgava-me capaz de alguma coisa no Brasil. Foi uma batalha perdida, mas de que me lembro com saudades, como certos generais velhos recordam nostálgicos as derrotas. Em todo o caso foi uma perda que acentuou a cisão e determinou uma corrente literária.