com especialidade os dramaturgos.

— Quanto a Portugal?

— Todos os clássicos, Eça de Queirós... Eu estudo com grande amor a língua portuguesa, mas sou pela liberdade, fujo aos estudos propriamente chamados clásssico-gramaticais. As línguas evoluem, e eu admito, como necessidade de representação de idéias, o estrangeirismo. Tenho a respeito da palavra uma teoria: a palavra falada é a palavra viva, livre, solta de todas as cadeias, capaz de por si só definir, pintar, colorir; a palavra escrita é a palavra agrilhoada, morta, sem a expressão imediata. A primeira tem a intenção que é tudo e a inflexão que é a realidade da intenção. Toma por exemplo a palavra Deus. Deus tem uma cor no juramento solene, outra no auge do pavor, outra na ironia, tem todas as cambiantes do sentimento, graças à inflexão e, às vezes, apesar de sagrada, falta-lhe moralidade, como quando uma rapariga, comida de beijos pelo amante, murmura trêmula: — Meu Deus!

A palavra escrita vive do adjetivo, que é a sua inflexão. Daí a grande necessidade de disciplinar o vocabulário.

Coelho Neto é no Brasil o que Rudyard Kipling é na Inglaterra, — o homem que joga com maior número de vocábulos. Alguém já lhe calculou o léxico em 20.000 palavras.