o torcido, o escabujamento, o histerismo... Acho, entretanto, que chegaremos a ter uma Escola Brasileira, não o indianismo mas idéia brasileira, o costume brasileiro, numa língua que terá a clareza do Eça, e a maneira francesa na mais plástica de todas as línguas — a língua portuguesa. Para isso, é preciso antes de tudo o prestigio oficial. A transformação far-se-á violentamente, porque nós somos um povo de explosões. No dia em que a proteção oficial for uma realidade, o público admirará a arte no teatro e no romance, como se encaminhou para a Avenida, e o artista, tendo-se deitado num grabato, acordará num leito de púrpura.

— Falei-lhe da literatura dos Estados.

— O Euclides da Cunha já dividiu magistralmente o norte e o sul. É incontestável. Daqui para alguns anos teremos duas literaturas distintas: a dos trovadores ao norte, a dos troveiros ao sul. O norte não é belicoso. Um profundo lirismo vive na sua alma, e tanto as alegrias como as dores são sempre postas em canto. Daquele pedaço de terra o sol nunca de todo se arreda, porque, se a luz foge, fica o calor acalentando o solo, as árvores e os céus. Os homens vivem com os elementos, são dispersivos e crêem nas divindades. No sul, ao contrário, a terra fria faz a concentração, a luta, e os elementos estrangeiros vão se acentuando. O norte é virgem e bravio; ao sul, os homens de músculos brancos e cabelos