O reino de Kiato
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Paterson commovia-se deante de tão edificante espectaculo. Ali não se notavam castas, nem hierarchias. Dois filhos do rei, um de dezoito, outro de vinte annos, de blusa e gorro, guiavam as charruas, ao lado de seus subditos.

Era a glorificação da terra pelo trabalho, a terra que, creada para todos, o egoismo havia conquistado, oppondo o direito da força á força do direito.

A Biblia, no seu rebuscado symbolismo, de cuja interpretação se originou o schisma, é a historia das primeiras agremiações humanas. Abel é um symbolo, como o matador Caim. Caim é a encarnação do egoismo. O homem, embrutecido pelo alcool, apossou-se da terra, dividiu-a, retalhou-a em lotes, não cabendo aos fracos uma nesga sequer.

Paterson assistia, naquelle rincão affastado do mundo, á restituição da terra aos seus primitivos donos, isto é, a todo o genero humano. O senhorio territorial, figura execranda das sociedades corrompidas, havia desapparecido com a regeneração do homem. A terra do Reino fora dividida em hectares e distribuida entre os que queriam lavrar, de accordo com o numero de pessoas da familia.

Paterson sahiu a percorrer o campo. As especies vegetaes pareciam outras: acompanhavam o vigor, a saude do cultivador. Tinha á vista um trigal, que o encantava pelo luxo da vegetação. Não vira jamais verde tão vivo nem amarello tão louro nas espigas. Os grãos eram enormes, não havia uma semente chocha, mal vingada.

Passou ao pomar. Dispunham-se as arvores, em alamedas, tão symetricamente plantadas e cuidadas, que se {{left|O REINO DE KIATO — 5