Chamado a si pelos golpes que as farpas da pedra lhe abriram nas carnes, e admirando-se de não estar ainda submergido pelo boqueirão, quis atirar-se.
— Não! murmurou dentro d'alma. Quem há de enterrar a eles?... Depois, Benedito!... Sempre é tempo para a gente deixar este cativeiro!
Quando ouviu a voz de Martinho, o preto velho ergueu a cabeça atônito. Seria possível que o menino vivesse ainda! Que o pajem o tivesse visto?
Benedito não o podia acreditar. Mas a voz de Mário, forte, clara e distinta, acabava de pronunciar seu nome; não havia duvidar: o menino vivia. Então o corpo robusto do africano vibrou estremecendo, como o canhão depois da descarga. Com as mãos seguras a dois ramos do arbusto, o seu talhe projetou-se fora do rochedo sobre o lago; parecia o toro de um crocodilo negro, arremessando o bote à presa.
Os olhos dilatados, saltando-lhe das órbitas, pareciam absorver em si a Mário, arrancando-o às águas do lago. Não tinha voz para falar; os borbotões desse imenso resfôlego de um coração quase asfixiado