abandonados à gulodice do Martinho, o qual na sua qualidade de pajem de boa sociedade, sabia que nada apura e afina as ouças como um estômago repleto. Os outros, movidos pela curiosidade cercaram o catre de Chica:

“Foi um dia uma princesa, filha de uma fada muito poderosa, e do rei da Lua, que era o marido da fada.

“Sua mãe tinha feito a ela rainha das águas, para governar o mar e todos os rios, todos.”

— O Paraíba também, vovó?

— Já se sabe; todos os rios do mundo.

— E era bonita a princesa?

— Não se fala. Era uma Virgem Maria. Os cabelos verdes, tão verdes, chegavam até os pés e ainda arrastavam; nhanhã não tem visto aqueles fios muito compridos, que às vezes andam boiando em cima d'água? A gente chama limo; são as tranças dela.

— Tão bonito! Cabelos verdes, não é? Eu queria ter! disse Alice.

— Mas, tia Chica, quando ela nada, não se vê?

— A princesa?... Às vezes, quando a água está dormindo, ela se deita assim de bruços para olhar o céu. Tem saudade das irmãs.