como lavarmos as mãos do sangue dos escravos. Não basta não possuir escravos para não se ter parte no crime; quem nasceu com esse pecado original não tem batismo que o purifique. Os brasileiros são todos responsáveis pela escravidão, segundo aquela teoria, porque a consentem. Não se mostra como o brasileiro que individualmente a repele pode destruí-la; nem como as vítimas de um sistema que as degrada para não reagirem podem ser culpadas da paralisia moral que as tocou. Os napolitanos foram assim responsáveis pelo bourbonismo, os romanos pelo poder temporal, os polacos pelo czarismo, e os cristãos novos pela inquisição. Mas, fundada ou não, essa é a crença de muitos, e a escravidão, atacada nos mais melindrosos recantos onde se refugiou, no seu entrelaçamento com tudo o que a pátria tem de mais caro a todos nós, ferida, por assim dizer, nos braços dela, levanta contra o Abolicionismo o grito de “Traição”.

“Não sei o que possa um escritor público fazer de melhor do que mostrar aos seus compatriotas os seus defeitos. Se fazer isso é ser considerado antinacional, eu não desejo furtar- me à acusação.” Eu, pela minha pare, ecoo essas palavras de Stuart Mill. O contrário é talvez um meio mais seguro de fazer caminho entre nós, devido à índole nacional que precisa da indulgência e da simpatia alheia, como as nossas florestas virgens precisam de umidade; mas nenhum escritor de consciência que deseje servir ao país, despertando os seus melhores instintos,