tomará essa humilhante estrada da adulação. A superstição de que o povo não pode errar, a que a história toda é um desmentido, não é necessária para fundar a lei da democracia, a qual vem a ser: que ninguém tem o direito de acertar por ele e de impor-lhe o seu critério.

Quanto à pátria que somos acusados de mutilar, é difícil definir o que ela seja. A pátria varia em cada homem: para o alsaciano ela está no solo, nos montes pátrios et incunabula nostra; para o judeu é fundamentalmente a raça; para o muçulmano, a religião; para o polaco, a nacionalidade; para o emigrante, o bem-estar e a liberdade, assim como para o soldado confederado foi o direito de ter instituições próprias. O Brasil não é geração de hoje, nem ela pode querer deificar-se, e ser a pátria para nós, que temos outro ideal. Antônio Carlos foi acusado de haver renegado o seu país quando aconselhou à Inglaterra que cobrisse de navios as nossas águas para bloquear os ninhos de piratas do Rio e da Bahia,[1] mas quem desconhece hoje que ele, segundo a sua própria frase, passou à posteridade como o vingador da honra e da dignidade do Brasil?

Longe de eu injuriar o país, mostrando-lhe que tudo quanto há de vicioso, fraco, indeciso e rudimentar nele provém da escravidão, parece que dessa forma quis converter a instituição segregada, que tudo absorveu, em bode emissário de Israel, carregá-lo com todas as faltas do povo e fazê-lo desaparecer

  1. Cartas do solitário, carta XI.