e vergonha. Era um pesadelo, um delírio aquilo por que passara: era monstruoso e incrível. Posto às varas como um servo, ele homem livre; ele tão mimoso de seu bom senhor D. Henrique! As lágrimas correram abundantes por essas faces habituadas de longos anos unicamente às contracções das visagens truanescas. As lágrimas, porém, nem o consolaram, nem bastavam à sua desesperação. Depois de se rolar pelo chão mordendo os punhos cerrados, o bufão assentou-se a um canto, como o lobo cerval colhido no fojo, cansado de lidar em vão por salvar-se. Todo o fel, que o rir forçado de tanto tempo lhe fizera, por assim dizer, absorver e calcar no coração, achou enfim um resfolgadouro no ódio implacável que a dolorosa e terrível afronta recebida lhe gerara lá dentro. O pensamento da vingança alcançara o que não haviam obtido as lágrimas: Dom Bibas sentia agora que ainda havia para ele consolação e esperança.

Mas como vingar-se? Ignorava-o. Juraria contudo que Belzebu lhe dizia ao ouvido: "Pensa bem; que hás-de atinar com o caminho que buscas." Quem deixou de achar meios neste mundo para satisfazer paixões más?