— Não praz, por Sant'Iago! - replicava o coudel. - Tenho andado em mais de vinte arrancadas, tanto em hoste como em cavalgada; tenho saído trinta vezes de castros e burgos, em apelido contra mouros e leoneses: nunca vi lançar esculcas para vigiarem sagas de mesnada ou barbacãs de castelo. Que Satanás?! O infante não vem, creio eu, de Guimarães, mas para lá se encaminha: ao menos assim no-lo dizem. E não havemos de atalaiar bosques e pacigos além Madroa?
— Fu, fu, perro e vilão que és! - murmurou o cavaleiro. - Vedes vós - prosseguiu ele falando com os seus homens de armas - como vai ancha e crescida a ousadia dos peões? - Culpa tem quem fia deles cavalo, saio e cervilheira como a uma nobre lança. Ai, meu mano - acrescentou dirigindo-se de novo ao coudel -, digo-vos eu que não passareis o vau.
— Somos homens de rua - retrucou o coudel encolerizado -, burgueses por nossa carta de privilégio e bom foro; e a nenhum de nós pode ser dito fu, fu, perro e vilão [1] sem vilta e afronta de vinte soldos
- ↑ Fu, fu! — era um dos doestos d’aquelle tempo, contra o qual alguns foraes põem multas pesadas. Ignoramos em que consistia o affrontoso d’estas duas