a realeza aproveitou mais ou menos a sua aliança para domar as aristocracias secular e eclesiástica, como com o auxílio dela as monarquias de além dos Pirenéus conseguiram tirar ao feudalismo a preponderância, e quase inteiramente o carácter político.
Hoje é fácil iludirmo-nos, crendo ver nas revoluções e lutas do Ocidente da Península no decurso dos séculos VIII a XII a anarquia feudal, confundindo esta com a anarquia aristocrática. Não era a jerarquia constituindo uma espécie de famílias militares, de clãs ou tribos artificiais, cujos membros estavam ligados por mútuos direitos e deveres, determinados por um certo modo de fruição de domínio territorial, em que se achava incorporada a soberania com exclusão do poder público. Em vez disto, era o individualismo rebelando-se contra esse poder, contra a unidade, contra o direito. Quando as mãos que retinham o ceptro eram frouxas ou inabilmente violentas, as perturbações tornavam-se não só possíveis, mas, até, fáceis. A febre da anarquia podia ser ardente: o que não havia era a anarquia crónica, a anarquia organizada.
Eis as circunstâncias, que, ajudadas pelos desvarios da filha de Afonso VI, converteram o seu reinado num dos mais desastrosos períodos