do pergaminho, que o conde despedaçara entre as mãos.
O lume fugiu dos olhos a Egas. Era uma afronta monstruosa a que recebera. Recuou: os dentes rangiam-lhe como em acesso febril.
— Infame e covarde és tu, vilão de Galiza! - gritou ele. - Infame porque vendeste o teu corpo como uma mulher perdida; covarde porque só sabes injuriar no meio destes lebréus esfaimados que te cercam. Salteador és tu que roubas a nobre terra de Portugal a seu verdadeiro senhor. Assassino, levanta esse guante se ousas!
E atirou a luva aos pés de Fernando Peres.
— Alevantarei eu o teu guante, cavaleiro Egas Moniz! - exclamou Garcia Bermudes adiantando-se. - A lança e a espada do nobre conde de Portugal e Coimbra não devem cruzar-se com as tuas. Senhor conde, uma estacada, e nomeai os juízes do campo.
A raiva sufocava e tolhia a fala ao conde de Trava, cujos olhos banhados de fel pareciam não lhe caberem nas órbitas: estendeu apenas a mão trémula e contraída fazendo sinal que recusava. O seu terrível silêncio durou por alguns instantes. Quem se atreveria a quebrá-lo?