— Oh! que essas palavras são suaves; são para mim o céu! - exclamou Dulce. - Sou eu que devo lançar-me a vossos pés, senhor conde, beijando a terra que pisais, e sois vós que deveis perdoar-me, porque vos detestei e amaldiçoei quando queríeis unir-me a Garcia Bermudes, a esse nobre cavaleiro que eu amaria com todo o amor que ele merece se o meu coração fosse livre. Era fazer a minha ventura que vós pretendíeis, e eu insensata maldizia e odiava o meu anjo-da-guarda, o meu segundo pai! Punir-me-ei, fazendo a confissão que mais custa ao pudor: amo Egas; ele tinha de mim o juramento de antes morrer que traí-lo. Há um momento eu tremia, porque soubera parte do que me dizeis: soubera que ele estava em Guimarães como mensageiro do infante. Era uma angústia intolerável a minha: vós me arrancais de um abismo.
— Mas tu, minha Dulce - continuou o conde no mesmo tom -, não dizes tudo. Ontem à noite certo cavaleiro entrou disfarçado em Guimarães...
— Tendes razão, senhor conde - interrompeu a desgraçada. - Aqui neste horto ele veio jurar-me de novo o que me jurara três anos antes, que amava a sua Dulce com o mesmo