não mistures um pensamento do céu na abominação da nossa existência.
O respirar de Dulce era agitado, e o rubor febril tingiu-lhe as faces enquanto o cavaleiro falou; depois empalideceu pouco a pouco, e em tom quase imperceptível respondeu:
— Deus te recompense, Egas, pelo bem que me fizeste com essas palavras! A tua imagem estava gravada na minha alma pura, santa, formosa: era um laço indissolúvel, o último laço que a prendia ao meu negro viver. Debaixo da lousa não podia vê-la e adorá-la, porque lá o dormir não tem sonhos. Turbaste essa imagem com o lodo de um assassínio; com a tua primeira covardia. Posso agora morrer. Só te peço que te afastes para te eu não ouvir nem ver... Deixa-me expirar abraçada com a memória do passado, com a lembrança do nosso amor inocente; deixa-me até ao fim amar o meu Egas; deixa-me esquecer de ti, que não és já ele! Egas, meu querido Egas... afasta daqui este homem vil e perverso, que ousa dar à tua Dulce o nome de mulher perdida!... Vem... oh, vem... meu Egas!
E a mal-aventurada, delirante já, estendia os braços para a imagem de Egas, que ela via diferente do que tinha ante si. Era o seu anjo-da-guarda que se librava nas asas de fogo para