S. João, por uma usança meia pagã, meia religiosa que se perdia na noite dos tempos, era já, como é ainda hoje, um dia de diurnos e nocturnos folgares.
Pelo passadiço lançado entre o postigo e o recinto vedado não tardou a entrar uma turba de cavaleiros vestidos simplesmente de briais, espécie de túnicas cingidas por uma faixa de lã, e armados só de lanças curtas, chamadas ascumas. Após eles dez ou doze cavalariços faziam entrar na liça outros tantos mastins corpulentos, cujos olhos afogueados estavam revelando a nativa ferocidade, e cujos pulos rompentes faziam vacilar os cavalariços, que a muito custo os retinham pelas trelas. No meio do murmúrio do povo, que se agitava no grande terreiro e que corria para a forte rede que demarcava a liça, ouvia-se a espaços um mugir e urrar longínquo, que parecia vir do interior do castro e que sobrelevava ao ruído da multidão.
Os cavaleiros das ascumas foram assentar-se num anfiteatro de paus grosseiramente acepilhados, que se alteava no topo do paralelogramo oposto ao do estrado da infanta. Na mais alta bancada do anfiteatro viam-se repotreados os magistrados municipais, e à sua direita os oficiais públicos