coração gelado. Era Garcia Bermudes, cavaleiro aragonês, valido do conde de Trava, e uma das melhores lanças de Espanha, que com ele viera a Portugal. Dotado de generoso ânimo, mas sobradamente altivo, e confiado no próprio mérito, Garcia Bermudes amava a donzela querida de D. Teresa, e esperava ser correspondido; porém, no coração de Dulce achara um afecto que lá não quisera encontrar: amor sim; mas amor de irmã. Era ele quem no meio das festas obtinha todas as preferências da filha adoptiva da infanta: a sua conversação a que mais lhe aprazia. Contudo, quando no meio do ruído e alegria dos saraus, ou cavalgando no ginete possante e correndo ao lado do palafrém de Dulce pelas florestas e sarçais, nas montarias e caçadas, ele buscava ensejo para proferir essas palavras veementes que escutadas sem cólera coroam esperanças de muitos dias, e repelidas entenebrecem o futuro e devoram uma existência, Dulce esquivava sempre com um gracejo esse instante decisivo, e o aragonês, apartando-se dela, amaldiçoava a hora em que a amara, para daí a pouco imaginar novo ensejo em que pudesse resolver por uma vez o seu incerto destino.
Dulce era a donzela, assentada na extrema