Eicha seguira o exemplo paterno, e, como em todas as opiniões deste mundo os renegados são os mais fervorosos na sua nova crença, achara ele em consciência que para se mundificar das torpezas do islamismo devia abraçar a pura vida do sacerdócio. Cónego da Sé de Lamego, restaurada por Fernando Magno, e que nesta época se achava unida à de Coimbra, o bom do tornadiço não pudera na santidade do seu ministério riscar do espírito a lembrança profaníssima de que nascera filho de um váli. Voavam-lhe os pensamentos altivos para os paços reais, como à gata da fábula fugiam as unhas para o murganho depois de transformada em mulher.
Finalmente os seus desejos cumpriram-se. A bela infanta de Portugal chamou-o à corte, apenas dela saiu desgostoso o arcebispo de Braga, cujo carácter austero mal sofria os amores de Fernando Peres e de D. Teresa. Martim Eicha era o homem talhado para o caso. O seu evangelho fora, por assim dizer, escrito num palimpsesto do Corão, e as doutrinas do Profeta, relativas à metade mais formosa do género humano, reverdeciam-lhe às vezes através da severidade das sacras páginas e confundiam-se a seus olhos com elas. Por esta causa, vinha o cónego Martim Eicha a