ser o capelão mais a ponto naquelas intrincadas circunstâncias, em que os princípios de teologia moral andavam em tanta harmonia com os costumes, como neste bendito século décimo nono as sãs doutrinas políticas andam conformes com a realidade dos factos.
Era, finalmente, a terceira pessoa daquela trindade argumentadora e disputante, o abade do Mosteiro de D. Mumadona, velho folgazão mas honesto, que na mesa dos banquetes despejava uma taça de vinho, e ainda um canjirão de cerveja, ou varria uma palangana de dobrada, iguaria mimosa desse tempo, com o mesmo fervor e devoto recolhimento com que na solidão da sua cela rezava as horas canónicas, ou garganteava no coro salmos e antífonas com os seus frades. Apesar dos benefícios que o ascetério de Guimarães recebera da infanta; apesar do gasalhado que encontrava no paço, o bom do velho torcia sem rebuço o nariz à tão íntima privança do conde Fernando Peres com a rainha. Não porque desse ouvidos aos maldizentes, que ainda nas mais puras acções vertem a peçonha de seus estômagos danados, mas porque não podia negar crédito ao que seus olhos viam, e a experiência e razão lhe ensinavam. Enxergava