agora expunha o amante, expunha todo o futuro, toda a esperança e todos os contentamentos. Por isso as lágrimas da bela infanta corriam. Quem sabe se também entre estas alguma era por seu filho?
O sarau daquela noite fora para ela um longo martírio. O espectáculo do rir e folgar, o transluzir da alegria em tantos gestos faziam-lhe mais carregada a negra nuvem da sua tristeza: era um tracto doloroso, cruel, dilatado; era como o prelúdio medonho de um cântico infernal; mas cumpria sofrê-lo resignadamente. Dos cavaleiros portugueses, que seguiam ainda a corte, muitos ânimos titubeavam indecisos entre o balção do infante e o pendão da rainha de Portugal; e a hesitação ou o temor seria o sinal para essa fidalguia brilhante passar ao campo contrário. Fernando Peres contava com os cavaleiros galegos, asturianos e aragoneses, de que pouco a pouco se rodeara: mas seria isto bastante para o salvar e salvar a infanta? Eis o que era mais que duvidoso. Com a astúcia de fingido desafogo e destemor ele tentava enganar os que vacilavam, e fazer-lhes crer, dançando na borda do abismo, que fácil lhe seria galgá-lo.
Mas o senhor de Trava não se lembrava