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mos, que são outros tantos domicilios da vertigem e da morte. Com a pedra desappareceria a montanha, si tivesse a imprudencia de ir surgir á frente, ou no meio daquellas impetuosas aguas, que alagam, constringem, cavam, desmantelam, pulverizam praias, ribas, fragas e continentes.

— Que não seria deste mundo — pensei eu, descendo das eminencias da contemplação ás planiceis do positivismo, — si nestas margens se sentassem cidades; si a agricultura liberalizasse nestas planicies os seus thesouros; si as fabricas enchessem os ares com seu fumo, e nelles repercutisse o ruido das suas machinas? Desta belleza, ora a modo de estatica, ora violenta, que fontes de rendas não haviam de rebentar? Mobilizados os capitaes e o credito; animados os mercados agricolas, industriaes, commerciaes, artisticos, veriamos aqui a cada passo uma Manchester ou uma Nova-York. A praça, o armazem, o entreposto occupariam a margem, hoje nua e solitaria, o cômoro sem vida e sem promessa; o arado percorreria a região que de presente pertence à floresta escusa. O estado natural, espancado pelas correntes da immigração espontanea que lhe viessem disputar os dominios improductivos para os converter em magnificos emporios, ter-se-hia ido refugiar nos sertões remotos d’onde em breve seria novamente desalojado. Uma face nova teria vindo succeder ao brilhante e magestoso painel da virgem natureza. Não se mostrariam mais aqui as tendas negras da fome e da nudez. O trabalho, o capital, a economia, a fartura, a riqueza, agentes indispensaveis da civilização e grandeza dos povos, teriam lugar eminente nesta immensidade onde vemos unicamente aguas, ilhas, planicies, seringaes sem fim.

Mas por onde ando eu, meu amigo? Em que alturas vou divagando nas azas da phantasia? Venhamos ao assumpto desta carta.

No Cabelleira offereço-te um timido ensaio do romance historico, segundo eu entendo este genero da litteratura.