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Á critica pernambucana, mais do que à outra qualquer, cabe dizer si o meu desejo não foi illudido; e a ella, seja qual fôr a sua sentença, curvarei a cabeça sem replicar.

As lettras têm, como a politica, um certo caracter geographico; mais no norte, porém, do que no sul abundam os elementos para a formação de uma litteratura propriamente brazileira, filha da terra.

A razão é obvia: o norte ainda não foi invadido como está sendo o sul de dia em dia pelo estrangeiro.

A feição primitiva, unicamente modificada pela cultura que as raças, as indoles, e os costumes recebem dos tempos ou do progresso, póde-se affirmar que ainda se conserva alli em sua pureza, em sua genuina expressão.

Por infelicidade do norte, porém, d’entre os muitos fllhos seus que figuram com grande brilho nas letras patrias, poucos têm seriamente cuidado de construir o edificio litterario dessa parte do imperio que, por sua natureza magnificente e primorosa, por sua historia tão rica de feitos heroicos, por seus usos, tradições e poesia popular ha de ter cêdo ou tarde uma bibliotheca especialmente sua.

Esta pouquidade de architectos faz-se notar com especialidade no romance, genero em que o norte, a meu ver, póde entretanto figurar com brilho e bizarria inexcedivel. Esta verdade dispensa demonstração. Quem não sabe que na historia conta elle J. F. Lisboa, Baena, Abreu e Lima, Vieira da Silva, Henriques Leal, Muniz Tavares, A. J. de Mello, Fernandes Gama, e muitos outros que podem bem competir com Varnhagem, Pereira da Silva, e Fernandes Pinheiro; que o primeiro philologo brazileiro, Sotero dos Reis, é nortista; que é nortista Gonçalves Dias, a mais poderosa e inspirada musa de nossa terra ; e que igualmente o são Tenreiro Aranha, Odorico Mendes, Franco de Sá, Almeida Braga, José Coriolano, Cruz Cordeiro, Ferreira Barreto, Maciel Monteiro, Bandeira de Mello, Torres Bandeira, que valem bem Magalhães, A. de Azevedo, Varella, Porto