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o horizonte estava já envolto nas sombras precursoras da noite. Nem leve brisa movia as folhas dos matos mudos e quêdos.

Os perfis das arvores solitarias desenhavam-se, no fundo do pavoroso ermo, como perfis de phantasmas.

Os fugitivos entraram no embastido, e depois de alguns passos deram em uma clareira, especie de asylo reservado pela natureza aos peregrinos que vagam sem rumo e sem guia.

Uma fogueira foi logo improvisada para terem luz durante a noite e evitar que se aproximassem as onças cujos uivos medonhos começavam a repercutir nas quebradas e gargantas das serras.

Procurava o mancebo galhos seccos para entreter o fogo, quando, ao pé de uma arvore que se levantava a um lado da clareira, deu com uma tosca cruz de pau cravada na terra.

Era quasi noite, e, no meio das sombras crepusculares, confundiu elle ao principio, o emblema da redempção com um tronco de arvore cortada por algum viajante transviado, ou despedaçada pela tormenta.

Quando reconheceu o sagrado emblema, o Cabelleira, suspenso pela sorpreza, sentiu-se abalado ao mesmo tempo por uma commoção desconhecida. No lugar occupado pela cruz