Um irmão do santíssimo entrara na estalagem, com a sua capa encarnada, a sua vara de prata em uma das mãos, na outra a salva do dinheiro, e parara em meio do pátio, suplicando muito fanhoso: "Uma esmola para a cera do Sacramento!" As mulheres abandonaram por um instante as tinas e foram beijar devotamente a colombina imagem do Espírito Santo. Pingaram na salva moedinhas de vintém.

Todavia, o Bruno acabava de despejar o que era da mulher e saia de novo de casa, dando uma volta feroz à fechadura. Atravessou por entre o murmurante grupo dos curiosos que permaneciam defronte de sua porta, mudo, com a cara fechada, jogando os braços, como quem, apesar de ter feito muito, não satisfizera ainda completamente a sua cólera.

Leocádia apareceu pouco depois e, vendo por terra tudo que era seu, partido e inutilizado, apoderou-se de fúria e avançou sobre a porta, que o marido acabava de fechar, arremetendo com as nádegas contra as duas folhas, que cederam logo, indo ela cair lá dentro de barriga para cima.

Mas ergueu-se, sem fazer caso das risadas que rebentaram cá fora e, escancarando a janela com arremesso, começou por sua vez a arrasar e a destruir tudo que ainda encontrara em casa.

Então principiou a verdadeira devastação. E a cada objeto que ela varria para o pátio, gritava sempre: "Upa! Toma, diabo!"

— Aí vai o relógio! Upa! Toma, diabo!

E o relógio espatifou-se na calçada.