O destino porém ajeitou as coisas por tal modo, que não foi preciso a Gonçalo sair de Goiás para que fossem completamente satisfeitos os seus desejos.
Entre os comparsas de Gonçalo havia um que, além de ser seu particular amigo, era o único que ousava rivalizar com ele em força e destreza. Era um rapaz por nome Reinaldo, robusto e bem-feito, e geralmente estimado por sua franqueza e lealdade, e que ainda não se tinha deixado inteiramente eivar do espírito de desordem e devassidão dos seus companheiros. Nos exercícios de luta, esgrima e outros era o que dava mais trabalho a Gonçalo, e por vezes acontecia ficar indecisa a vitória. Como era ainda muito moço tinha esperança de uma dia igualar, senão exceder a seu amigo em vigor e agilidade. Os companheiros o aplaudiam e animavam de propósito para humilhar a Gonçalo, cujo orgulho interiormente desejavam ver abatido. Isto fazia espumar de raiva a Gonçalo. Nesses momentos todo o sentimento de amizade desaparecia de seu coração, e não poucas vezes suas lutas e exercícios se teriam transformado em cenas de sangue e morte, se não interviessem os amigos de ambos. Gonçalo tinha bom coração e era excelente amigo, mas prezava acima de tudo a sua reputação de valentia. Esta singular mania encheu-lhe de trabalhos e infortúnios o caminho da vida.