não poucos também julgando-o algum Bugre feroz ou algum malfeitor estavam a ponto de o apedrejar. Esta primeira impressão porém não durou por muito tempo; pelo abatimento e profunda tristeza que se lia na fisionomia de Gonçalo, e por suas palavras cheias de senso, que nada condiziam com seu bizarro e selvático exterior, em breve compreenderam que aquele estranho personagem não era mais que uma vítima da sorte, a quem longos trabalhos e desgraças tinham reduzido àquele deplorável estado, e o acolheram com caridosa hospitalidade.

Ali tomou Gonçalo o hábito de ermitão, e viveu por algum tempo em profundo retiro na prática de assíduas e austeras penitências, subsistindo das esmolas do povo, que o estimava e venerava como a um santo, posto que ignorasse completamente quem era ele, e donde tinha vindo. Mas um vivo desejo de peregrinar pelo mundo o preocupava de contínuo, e sua alma inquieta e atormentada pelos remorsos, aos quais não achava lenitivo nem nas orações, nem nos jejuns e penitências, era agitada por um secreto pressentimento de que o céu o chamava a outros lugares a fim de cumprir uma piedosa missão, que ainda não lhe fora revelada.

Gonçalo deixou portanto a Palma, e embrenhou-se por sertões desconhecidos passando voluntariamente