uma vida de ásperas mortificações e penitências. Vagueou por um largo tempo através dos ermos com um bordão à mão e um saco às costas, vivendo de esmolas ou de frutos e legumes silvestres, tendo por leito o chão frio e duro, por teto a ramagem das florestas ou a abóbada úmida de alguma lapa cavada pela natureza no viso das montanhas. Mas nem assim conseguia acalmar os pungentes remorsos que lhe atormentavam a consciência. Os fantasmas de suas vítimas o acompanhavam por toda a parte como a sombra de seu corpo, e noite e dia lhe torturavam a alma. O grosseiro e parco alimento que tomava parecia-lhe ensopado em lágrimas e sangue. À noite espectros sinistros o ansiavam e enxotavam-lhe o sono das pálpebras requeimadas de prantos e vigílias. Com os olhos amortecidos, as faces pálidas e macilentas, o corpo emagrecido e alquebrado, parecia um espectro surgido dos túmulos, e ninguém mais reconheceria nele a figura atlética e garbosa do vigoroso mancebo de outrora. Errante de povoação em povoação, de fazenda em fazenda, muitas vezes também estacionava entre as hordas selvagens, que o respeitavam e veneravam como um pajé, e conhecedor de sua linguagem e costumes procurava não sem algum resultado doutriná-los e reduzi-los ao grêmio da religião cristã. Mas não podia persistir por muito tempo entre eles, pois que os hábitos e usanças dos índios,