do universo são partes da Divindade e constituem, no seu conjuncto, a propria Divindade; em outros termos: que pensar da doutrina pantheista?

«O homem, não podendo fazer-se Deus, quer, ao menos, ser uma parte de Deus.»

16. Os que professam essa doutrina pretendem encontrar nella a demonstração de alguns dos attributos de Deus: sendo os mundos infinitos, Deus é, por isso mesmo, infinito; desde que o vacuo ou o nada não existe em parte alguma. Deus está em toda a parte; estando em toda a parte, imprime a todos os phenomenos da natureza uma razão de ser intelligente, visto que tudo é parte integrante de Deus. Que podemos oppor a este raciocinio?

«A razão; reflecti maduramente e não vos será difficil reconhecer-lhe o absurdo.»

Esta doutrina faz Deus um ente material que, embora do tado de intelligencia suprema, seria em ponto grande o que so mos nós em ponto pequeno.

Ora, a ser assim, e visto que a materia se transforma incessantemente, Deus não teria estabilidade alguma; seria sujeito a todas as vicissitudes e mesmo a todas as necessidades humanas; faltar-lhe-ia a immutabilidade, um dos attributos essenciaes da Divindade. As propriedades da materia não podem alliar-se á idea de Deus sem rebaixal-o em nosso pensamento, e todas as subtilezas do sophisma não conseguirão resolver o problema da sua natureza intima. Não sabemos tudo o que elle é, mas sabemos o que elle não pode deixar de ser. Esse systema está em contradicção com as propriedades mais essenciaes da Divindade e confunde o Creador com a creatura, exactamente como se quizessem que uma machina engenhosa fosse parte integrante do mecanico que a concebeu.

A intelligeucia de Deus revela-se em suas obras, como a de um pintor em seus quadros; mas as obras de Deus não são o proprio Deus, assim como um quadro não é o pintor que o concebeu e executou.